quarta-feira, 21 de março de 2012

Eu-te-amo não é um sitoma é uma ação

Dizer eu-te-amo é fazer como se não tivesse nenhum teatro da fala e é uma palavra sempre verdadeira. Eu-te-amo não tem distanciamento. É a palavra da díade(apaixonado-maternal); nela não há nenhuma distância, nenhuma deformação e não é metáfora de nada.
Eu-te-amo não é uma frasa, não permite um sentido, mais se prende a uma situação, ' aquela em que o sujeito está suspenso numa ligação especular com o outro'. Embora seja dito milhares de vezes, eu-te-amo não está no dicionário; é uma figura cuja definição não pode exceder o  título.
Eu-te-amo não é da odem, nem da linguística, nem da semiologia. Sua instância seria mais exatamente a Música. A exemplo do que acontece com o canto, no proferimento do eu-te-amo, o desejo não é nem reprimido, nem reconhecido, mais simplismente gozado. O gozo não se diz; mais ele fala e diz: eu-te-amo.
Fico certamente mais anulado se sou rejeitado, não apenas como pedinte, mais também como sujeito falante, pois é a minha linguagem que é o último minuto da minha existência.
O sofrimento...
 O sofrimento de um amor não será da ordem de um tratamento reativo ou depreciativo? Ou imaginar uma visão trágica do eu-te-amo? (RESPONDA).
Eu pronuncio eu-te-amo para que você responda e a forma escrupulosa da resposta terá um valor efetivo, como se fosse uma fórmula. Não é portanto suficiente que o outro me responda por um simples significado, mesmo que seja positivo "eu também".
Dizer eu-te-amo é expulsar o reativo, e ser lançado no mundo surdo e dolente.

                                                                                    --- Roland Barthes

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