quarta-feira, 28 de setembro de 2011

“O amor é uma coisa que se aprende”


"Oscar Wilde notou: as pessoas passaram a olhar languidamente para o pôr-do-sol só depois que esse fenômeno natural se tornara objeto das aquarelas de Turner. Era um jeito de dizer que a realidade não nos sugere o que pintar, ao contrário: é a pintura que nos ensina a olhar. No caso do amor, acontece algo parecido. Sempre houve sentimentos amorosos, mas nossa experiência do amor não tem nada (ou quase) de natural: é uma retórica de sentimentos que aprendemos, assim como uma língua. A cultura moderna produziu um imenso repertório do amor. Aprendemos a amar nos romances, filmes, novelas, letras das músicas populares. O começo do século é um bom momento para fazer uma espécie de balanço, não do que sabemos (sempre muito pouco), mas da variedade do repertório graças ao qual somos amantes. O psicanalista Contardo Calligaris desenvolve a idéia de que “o amor é uma coisa que se aprende”. Calligaris vai buscar nas origens das narrativas amorosas uma verdadeira revolução que gerou o mundo moderno. A partir do século 18, o amor foi o agente ideológico da supremacia do indivíduo contra as regras sociais. Com isso, o sujeito passa a ter que inventar a si mesmo, e nisso as narrativas desempenham papel fundamental. Nós todos aprendemos a amar no mesmo repertório cultural das histórias que contamos, vemos e ouvimos”.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Relato de uma mulher

Só queria passar despercebida em meio a multidão e viver sem compromissos ou grandes expectativas. Buscava a leveza das coisas nos sorrisos sinceros e em lágrimas de arrependimentos. Não desejava além do que qualquer pessoa pode sonhar para si. Buscava amor. Amor verdadeiro, sincero e recíproco. Buscava romance, flores, palavras de conforto. Queria segurança, colo, afago no rosto. Andar de mãos dadas, deitar de conchinha, massagem nos pés. Sonhava em ser surpreendida, com uma visita inesperada no meio de uma madrugada chuvosa e que fosse só para matar a saudade. Queria ser conforto, alicerce e inspiração de alguém. Precisava acreditar sinceramente nas palavras que de tantos escutou, mas que em nada acrescentaram em sua vida. Se engana fingindo amor e vivendo em um eterno devaneio. Diz experimentar da vida e mata a essência dos próprios sentidos. Insiste em tomar para si a responsabilidade dos fatos e acaba com qualquer possibilidade de sonhos concretos. Busca por sentimentos puros e verdadeiros, mas ao menor sinal de sua existência, desdenha e parte para outras buscas. Nem mesmo se dá conta das tantas vezes que essa procura quase chegou ao fim. Talvez nem saiba mais o que tanto procura ou quem sabe perdeu a vontade de encontrar. Porque amar é bom, mas também deixa um vazio. Algo que você não sabe como e nem se consegue preencher. Dói. Em proporções miúdas e contínuas e em vários lugares. No corpo, na alma e até nos pensamentos. Deixa marcas, que por mais que você tente, nunca vai conseguir apagá-las. Impregna com cheiros que vão ativar para sempre uma parte das suas lembranças e sabores que o paladar nunca vai poder reproduzir. Amar é para todos, mas nem todos estão verdadeiramente dispostos a sentir. É risco e nem sempre estamos dispostos a pular de tão alto.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

SÓ TEM MULHER QUEM PODE '-'


     "Tenho apenas um exemplar em casa, que mantenho com muito zelo e dedicação, mas na verdade acredito que é ela quem me mantém. Mulher vive de carinho. Dê-lhe em abundância. É coisa de homem sim, e se ela não receber de você vai pegar de outro. Beijos matinais e um 'eu te amo’ no café da manhã as mantém viçosas e perfumadas durante todo o dia. Flores também fazem parte de seu cardápio – mulher que não recebe flores, murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e brutalidade.
Respeite a natureza.
Você não suporta TPM? Case-se com um homem. Mulheres menstruam, choram por nada, gostam de falar do próprio dia. Não faça sombra sobre ela.
Se você quiser ser um grande homem tenha uma mulher ao seu lado, nunca atrás. Assim, quando ela brilhar, você vai pegar um bronzeado. Porém, se ela estiver atrás, você vai levar um pé-na-bunda.
Aceite: mulheres também têm luz própria e não dependem de nós para brilhar.
O homem sábio alimenta os potenciais da parceira e os utiliza para motivar os próprios. Ele sabe que, preservando e cultivando a mulher, ele estará salvando a si mesmo.
É, meu amigo, se você acha que ter mulher custa caro demais, então vire uma delas.
     Só tem mulher quem pode!"

[Luiz Fernando Veríssimo]

domingo, 18 de setembro de 2011

"Ser adolescente. Ser jovem. Ser alguém "

      
      A adolescência não é uma faixa etária; não é uma etapa da vida humana, como a infância, a maturidade ou a velhice. Também não é uma simples fase de crescimento ou de transição entre os breves anos infantis e a longa vida adulta. Adolescência é problema. Adolescência é crise. Adolescência é desajuste e rebeldia.
       
      Ser jovem não é ser semente; é ser, antes de mais nada, uma narrativa aberta. Imagine que você é o começo de uma história: havia uma moça de 16 anos que gostava dos Beatles e dos Rolling Stones e, um belo dia, ela saiu para fazer sua inscrição no vestibular… “Continue”. 
E lembre-se de que uma boa história tem reviravoltas e surpresas. Em poucas palavras, em vez de tentar descobrir a famosa semente, invente sua vida.”

      Os adolescentes amam, estudam, brigam, trabalham. Batalham com seus corpos, que se esticam e se transformam. Lidam com as dificuldades de crescer no quadro complicado da família moderna. Como se diz hoje, eles se procuram e eventualmente se acham. Mas, além disso, eles precisam lutar com a adolescência, que é uma criatura um pouco monstruosa, sustentada pela imaginação de todos, adolescentes e pais.

      A capacidade dos adolescentes inventarem seu futuro depende dos sonhos aos quais os adultos tem que renunciar.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Contardo Calligaris, escreve:

        Apaixonar-se é idealizar o outro, durar no amor é lidar com a realidade do amado ou da amada. Antes de ponderar os charmes da idealização, duas observações.
        Um impasse: para manter a paixão, deve continuar idealizando o parceiro. Mas, para idealizar o outro, devo mantê-lo a distância. Se mantenho o outro a distância, renuncio aos prazeres de amor, companheirismo, cumplicidade, convivência.
        Um paradoxo: se me separo porque me apaixono por outra ou outro, o parceiro que deixei se distancia de mim, portanto volto a idealizá-lo e a me apaixonar por ele.
        Por que gostaríamos tanto de idealizar o outro que vislumbramos num novo encontro?
        Uma nova paixão amorosa é provavelmente o sentimento que mais pode nos transformar, para o bem ou para o mal. Por exemplo, se o outro me idealiza, carrego seu ideal como um casaco novo: modifico minha postura para que o pano caia bem no meu corpo. De uma certa forma, tento me parecer com o ideal que o outro ama em mim.
        Cada amor, quando começa, é uma aventura. Não porque encontro um novo parceiro, mas porque, ao me apaixonar, descubro ou invento um novo ideal e, ao ser amado, mudo para me aproximar do que o outro imagina que eu seja.
        A inconstância amorosa talvez seja a expressão imediata do desejo de mudar -não de trocar de parceiro, mas de se reinventar.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Esfinge

És esfinge!
Devora-me, que desisti de decifrar-te,
Dilacera minhas carnes
Despedaça minhas fibras musculares
Arranca cada nervo meu com tuas presas.

És esfinge!
Deste-me todas as pistas
E sucumbi sem as tuas respostas
Sem desvendar teus enigmas.
Sem iluminar teus mistérios.

Sou morto!
Agora mesmo, falo da tumba,
Mesmo que, em ato de extrema
Misericórdia, decidas por anistiar-me
Ainda assim, sou morto.

Sou um olho que não te viu
Um ouvido que não te escutou
Uma boca que a ti não se declarou
Braços que não te abraçaram
Pernas que não te seguiram
Coração que não bateu junto ao teu.

Por fim, mata-me, devora-me!
Só assim, meus olhos, ouvidos,
Boca, braços, pernas e coração
Poderão redimir, na morte,
Minha vida de descasos
 

domingo, 11 de setembro de 2011

Pequeno tratado sobre a mortalidade do amor

Todos os dias morre um amor. Mas quase nunca percebemos. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos. Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos. Morre da mais completa e letal inanição.

Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados, e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos, definhando paulatinamente até se tornarem laranjas chupadas.

Existem os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da TV ligada na mesa-redonda ao final do domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram - teimosos, e belos, e cegos, e intensos. Mas estes são raríssimos, e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. Mas não quero acreditar nisso.

sábado, 10 de setembro de 2011

Vem ao meu encontro '-'


       Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, dói demaais. Mas passa.
       Fico pensando às vezes como deve ser bom ligar e dizer “aconteceu algo terrível, sinto que não vou suportar” e ouvir “senta e me espera, to indo agora te ver”.
       & eu falo : - Venha quando quiser, ligue, chame, escreva – tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim, venha logo.

domingo, 4 de setembro de 2011

Tanta Carência ;


Solidão é não precisar. Não precisar deixar um homem muito só, todo só. Ah, precisa não isolar a pessoa, a coisa precisa da coisa, sem esquecer-se disto.
 
    Ah, meu amor, não tenhas medo da carência: ela é o nosso destino maior. O amor é tão  mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça – que se chama paixão. Se você já o tem, então enlouqueça e o viva.